Ah, o trabalho remoto! Parece sonho, né? Liberdade total, não perder tempo no trânsito, flexibilidade, ficar mais perto da família… Mas quando você é o líder, a coisa muda um pouco de figura. 

 

Poucos meses depois de pivotar o modelo de negócios da Azul para o que chamamos “Skin in the game” (venture building), me vi obrigado a gerir toda a equipe trabalhando de casa. 

 

Em março de 2020, tudo o que eu queria era voltar o mais rápido possível para o trabalho presencial. 

 

Alguns critérios de avaliação e gestão do time presencial (sobre os quais ninguém fala) eram: que horas o cara chega, que horas sai, se sai toda hora pra fumar, se passa muito tempo vendo redes sociais etc. Todos esses critérios simplesmente desaparecem no trabalho à distância.

 

 A verdade é que eu estava bem perdido. 

 

Toda vez que algo não dava certo, meu primeiro pensamento era: “Esse pessoal deve estar na praia!” Claro, eu estava errado, mas demorei um pouco para perceber isso.

 

Nos primeiros dias, era comum sentir que eu estava tentando dirigir um carro com os olhos vendados. A equipe estava dispersa, cada um no seu canto, e eu sem saber como juntar todos rumo aos objetivos comuns. 

 

Aqui vão algumas lições que aprendemos, em meio a muitos tropeços, suor e lágrimas.

 

Comunicação: o início, o fim e o meio.

 

A primeira grande lição foi sobre comunicação. A princípio, nossa comunicação era um caos. O caos também era conhecido pelo codinome “WhatsApp”. Mensagens perdidas, threads gigantes de e-mails que ninguém lia e reuniões online que mais pareciam monólogos. 

 

A solução? Centralizamos a comunicação em ferramentas que todos poderiam acessar e monitorar. 

 

Implementamos reuniões frequentes, rápidas e focadas, com pautas específicas e tempo pra começar e para acabar. Assim, cada um sabia o que o outro estava fazendo, e ninguém ficava na mão esperando informação.

 

Autonomia e confiança: o salto de fé

 

Admito. Dar autonomia foi um desafio para mim. Eu precisava confiar que, mesmo não vendo, a equipe estava produzindo. E, adivinha? Quando comecei a confiar, as coisas fluíram melhor. 

 

Claro, isso não veio sem estrutura. Estabelecemos metas claras e KPIs que nos ajudavam a medir o progresso real, não só o tempo gasto na cadeira. 

 

Isso ajudou a equipe a se sentir responsável e motivada.

 

Feedback: nem sempre fácil, mas sempre necessário

 

Feedback foi outro ponto crítico. No início, eu guardava as críticas para as reuniões de avaliação, o que causava surpresa e, às vezes, ressentimento. 

 

Aprendi que feedback tem que ser como um snack: pequeno, frequente e nutritivo. Comecei a oferecer comentários construtivos regularmente, e incentivei a equipe a fazer o mesmo. 

 

Isso criou uma cultura de melhoria contínua e aberta.

 

Flexibilidade e resultados: o equilíbrio mágico

 

A flexibilidade é uma faca de dois gumes. Sim, é ótimo poder ir ao banco no meio do dia sem stress. 

 

Mas também é fácil perder o controle de quem está fazendo o quê e quando. Aqui na Azul, decidimos que o que importa são os resultados. 

 

Não importa se você trabalha melhor de madrugada ou se precisa de uma tarde livre para cuidar do seu bem-estar. 

 

O que importa é entregar o que combinamos, no prazo combinado. Isso sim mudou nosso jogo.

 

“Justo é o combinado”, como costumamos dizer.

 

Tecnologia: nossa melhor aliada

 

Investir em tecnologia foi essencial. No começo, tentamos economizar nessa parte, o que só nos deu dor de cabeça. 

 

Com o tempo, adotamos melhores softwares de gestão de projetos, ferramentas de comunicação e soluções de armazenamento em nuvem. 

 

Slack, Monday, Hubspot, Google Workspace e Zoom viraram nossos melhores amigos. 

 

Isso facilitou muito a vida de todos e, de repente, a distância física já não parecia um problema.

 

Um erro que cometemos foi subestimar o lado humano. Trabalho remoto pode ser solitário. Organizamos eventos online, como happy hours virtuais e cafés da manhã por vídeo, para manter o espírito de equipe. 

 

Além disso, cada gestor agora tem a tarefa de checar como estão seus liderados, não só profissionalmente, mas também emocionalmente.

 

Claro, os encontros presenciais não são para todos: a equipe que trabalha no Chipre ou nas Filipinas não consegue participar de encontros no Rio… =)

 

E os resultados?

 

Bem, depois de ajustar a forma como gerimos nossa equipe remota, vimos uma melhora significativa na produtividade e na satisfação da equipe. 

 

O turnover do time caiu de quase 30% ao ano para 0%.

 

Os projetos fluem melhor, as entregas têm mais qualidade e o clima geral é de parceria verdadeira.

 

Resumindo: aprender a gerenciar equipes remotas foi uma curva de aprendizado íngreme para nós na Azul. Foi perrengue no início.

 

Passamos por muitas tentativas e erros. Erramos muito no início. Mas cada passo em falso foi uma lição valiosa. 

 

Sinto que a nossa capacidade de adaptar e aprender com nossos erros foi fundamental para o sucesso que temos.  As lições aprendidas ao longo do caminho não apenas aumentaram nossa eficiência e coesão, mas também reforçaram a cultura de transparência e apoio mútuo que valorizamos tanto. 

 

Hoje estamos aptos a montar equipes remotas para clientes – ou alocadas dentro do cliente.

 

Então, se você ainda está vacilando na gestão de seu time no modelo híbrido ou remoto, lembre-se: paciência, persistência e abertura para aprender são suas melhores ferramentas. Vá em frente, adapte-se e aproveite cada passo dessa jornada. Acredite, os frutos valem a pena!

 

E uma dica final de oportunidade no modelo remoto: tem muita gente competente fora do eixo Rio-São Paulo!